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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Por que?

Por que complicamos o amor
Ao invés de amar como no início?
Eram flores, carinho e vício 
Agora já não temos mais isso

Eu dou boa noite e falo que vou dormir
Quero aliviar o clima e tentar sorrir 
Mas um seco boa noite é o que recebo
Desse mundo tão sem jeito

Se duas pessoas se gostam,
Isso quer dizer que dará certo?
Não.
É preciso muito mais para continuar 

Vamos focar nas coisas boas 
Nas lembranças, das risadas e das danças 
Ao invés de lamentar
Algo que não podemos mais mudar 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Anna e o Beijo Francês

"Você precisa ler esse livro! Você vai amar!

E eu amei.

Nada melhor do que quando me indicam um livro.

Qualquer que seja, eu vou colocar na minha lista.

Mas facilita ainda mais quando a pessoa o coloca na sua mão, e agradeço a todos que vivem me emprestando esses xodós.

Esse em especial, foi minha amiga Bruna que me emprestou, e, mais uma vez, ela acertou em cheio.

Demorei para concluir a leitura por estar de férias e acabar colocando outras prioridades na frente, mas trata-se de uma obra leve e muito prazerosa para os amantes de romances.

Anna, a protagonista, se vê em total desespero quando seu pai a manda para estudar em um colégio interno durante o último ano do High School na França.

Ela não queria ter de deixar o conforto de Atlanta, seus amigos e a parte agradável de sua família para ir a um local totalmente desconhecido, e que, apesar de ser a considerada cidade mais romântica do mundo, não teria graça alguma sem Toph.

Além do mais, ela não falava francês e não conhecia ninguém naquela escola.

Mas, ao chegar lá, Anna faz novos amigos, e, principalmente, se aproxima cada vez mais de Étinne.

Apesar das dificuldades, ela começa a se adaptar com o novo lar... e muita coisa ainda está para acontecer.

Uma amiga aparentemente traidora.

Toph, um babaca.

Étinne, um lindo. Um lindo que tem namorada.

Meredith, sua nova amiga, apaixonada por Étinne.

Será que um ano inteiro de desencontros em Paris terminará com o esperado beijo francês?
                        

Desculpe o transtorno, preciso falar de The OA.

 Conheci a séria através da minha melhor amiga, e, apesar de já ter visto diversas vezes a sua capa passar pelo Netflix, eu não tinha ideia sobre o que se tratava. Apesar do nome peculiar, nunca tinha me chamado a atenção.

Até que eu li a sinopse. Bizarro. Eu não tinha ideia do que esperar daquela obra, e foi por isso que decidi assistir. Nunca havia visto ninguém falando sobre ela (ou não prestei atenção), e, sem spoiler algum, tudo fica mais emocionante.

Me apaixonei logo de cara. Com cinco minutos de série meus olhos já estavam vidrados na tela, e isso não deixou de acontecer nem por um minuto ao longo dos oito episódios.

Demorei cinco dias para vê-la toda, mas não por ser cansativa. Eu poderia ter assistido tudo direto.

Resumidamente, The OA é uma série americana de drama, suspense e ficção científica. A trama gira em torno da jovem Prairie Jonhnson, que retorna para sua cidade sete anos após desaparecer misteriosamente - porém, há um detalhe ainda mais bizarro: a garota era cega quando desapareceu, e agora consegue ver. Há indícios de que Prairie se lembra do que aconteceu, mas se recusa a falar de seus sete anos desaparecida com a polícia ou com sua família.

A princípio, imaginei que fosse uma historinha clichê sobre uma pessoa que desaparece e vai para um mundo fantasioso, mas logo vi que era muito mais que isso, uma história com um tema realmente sério e que me fez refletir não apenas a respeito de um outro plano, como a questão dos cativos e a conexão que podemos estabelecer com determinadas pessoas ao longo da vida.


Agora que finalizei a primeira temporada (ainda não me informei se terá continuação - espero que sim), fui procurar críticas a respeito do desfecho, que me deixou totalmente desorientada.

Li relatos de muitos pontos negativos, mas, sinceramente, ainda não concordo com a maioria.

É claro que a série apresenta algumas imperfeições, mas, para mim, os criadores realizaram um trabalho incrível. Além disso, (CONTÉM SPOILER) a dança realizada pelos cinco integrantes na última cena me fez arrepiar dos pés a cabeça, assim como o chamado do nome "Homer" no final, que nos deixa totalmente intrigados para continuar a desvendar os mistérios vividos pela jovem OA.

➽ Pelo tanto que estou elogiando, vocês podem imaginar que a minha classificação para a história é de 5 estrelas.

E, apesar de ter lido muitas críticas negativas, ainda acredito totalmente no seu potencial.

Espero que vocês também embarquem na loucura fascinante que é
essa grande aventura. E, enquanto isso, aguardo ansiosamente por uma continuação!


Minha reação ao finalizar o último episódio



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Capítulo 4

O segundo dia de aula não foi muito diferente do primeiro. Apesar de já estar lotada de trabalhos e matéria para estudar, eu não conseguia me concentrar. Não que eu seja despreocupada com questões escolares, pelo contrário, sou tensa até demais com isso, mas uma pulga atrás da orelha não me deixava em paz.

O pensamento de que o Artur pudesse estar me tratando como segunda opção não saía da minha cabeça. Eu poderia apostar que ele havia combinado de encontrar a Renata também. Talvez antes de mim, talvez assim que eu fosse embora. Ou será que ele deixaria pro dia seguinte? Eu estava enlouquecendo quando o sinal do intervalo tocou.

O Colégio Milênio era enorme, mas depois de três anos estudando lá eu já havia me acostumado com seu tamanho e passava os recreios dando voltas e mais voltas enquanto fofocava colocava os assuntos em dia com a Laura.

Desci as escadas que levavam até a cantina principal rapidamente, desviando dos colegas desesperados para jogar bola e dos que não tinham pressa alguma. Como o esperado, ela estava lá, comendo sua barrinha de cereal e esperando por mim.

E eu já ia começar a desabafar quando vi a Alice se aproximando.
A verdade é que ela é a menina mais fofa, inteligente e simpática do nosso ano, sou encantada por sua alegria e bom humor (exceto quando a acordam cedo), e nossa amizade havia crescido muito, já que no ano anterior estávamos todas na mesma sala, mas agora havia um problema.
Ela era a melhor amiga da Renata.
Desde que eu entrei no CMil - "apelido" da nossa escola - e fiquei amiga da Laura, ela me contava sobre a Renata e suas inúmeras confusões com outras garotas do colégio, e eu respeitava que não se gostavam muito, mesmo sem saber o motivo. E eu não tinha nada contra e nem a favor dela. Até o começo do ano.
Eu namorava o Pedro, que era muito amigo do Vítor, que, na época, namorava a Renata.
E a minha insatisfação com ela cresceu naquele dia.
Era aniversário do Vítor, e iríamos para o Outback depois da aula para comemorar.
A Laura não iria porque já tinha marcado de ir fazer sua primeira tatuagem naquele dia e estava super ansiosa. E, além da Renata, iriam a Sara e a Bela, duas outras colegas que, apesar de super divertidas, eu não era tão próxima.
O meu ânimo estava quase negativo, mas eu precisava ir. O clima com o Pedro estava péssimo, e aquilo estava me fazendo muito mal, eu precisava conversar com ele.
Acontece que o horário das aulas a tarde variavam de acordo com as salas, e, apesar de eu, a Sara e a Bela já termos sido liberadas, ainda faltava uma hora pra que a Renata saísse.
Estávamos as três sentadas em uma das mesas do pátio vazio e eu ouvia a Sara combinando de esperarmos a Renata e dividirmos um táxi, enquanto os meninos já estariam nos aguardando no Pátio Savassi.

Enquanto isso, eu escutava inúmeras perguntas sobre o meu relacionamento. Meu namorado era melhor amigo da Sara, eu tinha que tomar cuidado com o que falava.
-O que você vai fazer quando ele for pra Porto? Vai terminar? Quero nem ver isso.
A viagem a que ela se referia, é aquela famosa por ser realizada pelos alunos do terceiro ano do Ensino Médio, que, nas férias de julho, contratam uma empresa de turismo e vão para Porto Seguro, onde são inclusas muitas festas e loucuras. E que, apesar de achar que deve ser divertido, eu nunca tive muita vontade de participar.
Acontece que o Pedro estava repetindo de ano, então em aproximadamente cinco meses ele faria essa viagem com os amigos, e ele não falava sobre outra coisa.
Se eu sentia raiva? Não.
Ciúmes? Nem um pouco.
No fundo eu tinha certeza de que não precisava me preocupar com aquilo, eu sabia que aquela relação não duraria até o meio do ano. Na verdade, eu nem sabia direito por que havia começado...
Ainda estava pensando em como responder àquela pergunta quando a vi.
-Sara e Isabela, venham aqui agora! Minha mãe já está esperando pra levar a gente.
Eu não estava entendendo nada, só ouvia uma gritaria.
-Mas o combinado era...
-Não tem lugar pra Júlia no meu carro, vamos agora!
-Você ficou louca?
As meninas estavam sem graça, e eu mais ainda, não sabia o que dizer quando responderam que não iriam sem mim, e fiquei observando em choque a Renata partir.
-Gente, não preocupem comigo, acho que nem quero ir mais, vou pedir minha mãe para me buscar...
Mas assim que terminei de falar eu a vi voltando, gritando para corrermos e entrar logo no carro, que havia arrumado um espaço pra mim.
Eu não sabia mais onde me esconder naquele lugar, não tinha ideia do que estava fazendo ali, mas a noite só piorava.
Eu e o Pedro mal nos olhamos, e ele não sabia falar de outra coisa senão a viagem para Porto Seguro, e enquanto isso a Renata conversava - claramente sobre mim - com seu namorado.
Eu precisava acabar com aquilo, não entendia como havia chegado naquele ponto, e foi naquela mesma quarta feira que demos um fim naquele namoro bizarro.
-Precisamos conversar, isso não está dando certo, Pedro.
E foi aquela frase de cinema que eu escutei "acho que não estou preparado para um relacionamento sério".
Meu Deus, tinha que ser essa?
Em momento algum fiquei triste ou chorei, foi um término aparentemente tranquilo, em que dizemos manter a amizade, e o alívio que eu sentia era inigualável. Parecia ter tirado um peso das minhas costas.

Mas a partir daí muita coisa mudou. Agora eu entendia quando diziam que a Renata era uma pessoa de "difícil convivência", e queria manter a distância. Me afastei também do ciclo de amizade do Pedro, percebi que no momento realmente não era o que eu queria para a minha vida, e a partir daí eu e o Artur nos reaproximamos de uma maneira inacreditável.

Ah, o Artur.

Percebi que eu havia passado minutos viajando naquela história quando a Alice me cutucou.
-Xulia, você tá bem?
-Ei! Xulia é o apelido que eu inventei, só eu posso usar - era a Laura toda brava.
Respondi dizendo que estava bem, mas a troca de olhares realizada entre nossa dupla fez com que a Alice percebesse que tínhamos um assunto particular a ser tratado, e logo voltou para seu grupinho.
- Fala, Xulia.
- Então... acho que briguei com o Artur ontem...
- A não, de novo! Vocês têm que resolver isso logo.
- É. Por isso ele me chamou pra almoçar com ele hoje.
- Ih! Tô sentindo um clima...
E eu não podia mais negar, minhas amigas me conheciam bem demais para acreditar nas minhas enrolações.
- Mas e a Renata?
- Ah Júlia, por favor né?! Não vai me dizer que acha que ele está tendo encontros secretos com ela? Merda. Pode ficar tranquila, que sinto que não é isso que tá acontecendo, conversa com calma com ele hoje e me conta depois.

Eu já estava mais tranquila quando fui encontrar com ele, e o impressionante é que mesmo com meus sentimentos malucos, perto do Artur eu me sentia a vontade, tudo ficava leve e tranquilo, até em nossos piores momentos.

Fomos almoçar no restaurante que costumávamos frequentar dois anos antes, quando éramos da mesma sala e tínhamos que ficar o dia inteiro no no colégio para fazer trabalhos. E durante o caminho fomos relembrando aquela época, o período em que nos aproximamos.
- E de pensar que sempre que você vinha aqui, pegava a cortesia de doce de banana pra mim só porque eu adorava e você não, me abandonou mesmo né Artur.
E ainda assustávamos quando eu o chamava pelo primeiro nome, já que ele só era chamado de Leal, e inclusive por mim. Mas agora não dava mais. O garoto de agora se tornara totalmente diferente do que era anteriormente, e era pelo Artur que eu estava me apaixonando.

Na fila do self-service servíamos apenas salada, peixe e frango, dizendo estar no "Projeto Mulher Maravilha e Superman", e até na indecisão éramos parecidos, demorando minutos para escolher onde assentaríamos.
- Tenho uma surpresa pra você, ou melhor, duas.
E antes que eu respondesse ele tirou um carregador e um livro de sua mochila.
- É pra mim????
- Bem, o carregador sim. Minha mãe comprou errado, e sei que você é a mestre de estragar carregadores, então esse é pra você. E o livro é aquele que você me pediu emprestado.
Mas eu nunca imaginava que iria realmente lembrar de levá-lo pra mim, nem sabia se havia lido de fato, mas o resumo que ele fez da obra enquanto eu analisava meu novo carregador lilás me provou o contrário.
- Você é um fofo mesmo viu! Muito obrigada, e pode deixar que assim que eu terminar de ler, te devolvo.
- Oba, vamos ter que encontrar de novo.
E o sorriso não saía de nossos rostos.
- Agora vai comer a sua salada, seu pagante de fitness, antes que fique ruim.
- Falou viu, Mulher Maravilha.
- Engraçadinho, anda logo, te desafio a terminar esse prato.
- Hum, nem vou aceitar esse viu, meu remédio tira o apetite.
E foi quando ele me contou algo que eu realmente não imaginava.
- Júlia, não foi só de você que eu me afastei durante aquele tempo. Poucos sabem, mas eu fiquei péssimo, não saí de casa durante meses, nem pra ir à escola. Tinha medo de tudo, pensava que seria assaltado por qualquer um se saísse de casa sozinho.
Uau. Por essa eu não esperava. Sempre achei que ele havia sumido por ter feito novos amigos e esquecido de mim, jamais pensara numa hipótese dessas.
- Mas vamos mudar de assunto, sei que é complicado, depois eu te conto mais sobre isso.
E ele percebeu o quanto aquilo me tocara.
- Relaxa, eu já tô bem, esses dois remedinhos me salvaram.
- Dois?
- Sim. O que o médico me receitou, e você.
E eu não sabia mais qual era o nível da piada. Se era só pra me fazer rir ou se havia alguma indireta.
- Uhum, sei. Vamos logo pagar pra podermos conversar em um lugar melhor, o nosso projeto já falhou.
Naquele dia ele pegou 3 docinhos pra mim, pra compensar o tempo ausente, e enquanto eu comia, fomos caminhando até o Shopping Diamond Mall, já que era em frente ao ponto do ônibus que precisávamos para ir embora depois.

-Então, agora vem o assunto chato. Pode me explicar o que há entre você e a Renata?"
Decidimos fazer uma "maratona" passendo pelas vitrines enquanto discutíamos, e então eu expliquei tudo pra ele.
O quanto aquela garota decidira me provocar de forma maldosa - e não foi só uma vez - e como o fato dele ter me "trocado" por ela me deixava triste.
- Olha Júlia, eu sinceramente não sabia dessas coisas que ela te fez, quero que saiba que para mim ela demonstrou ser uma pessoa totalmente diferente, e eu jamais manteria uma amizade dessas sabendo dessa personalidade dela. E sobre te "trocar", isso nunca aconteceu. Por um tempo ficamos afastados e eu acabei me aproximando mais dela sim, mas no momento você sabe quem é a única pessoa que eu passo o dia inteiro conversando.
Eu não sabia mais o que dizer, já havia contado o que estava me incomodando, e começado a acreditar que talvez a hipótese de que ele gostava dela pudesse ser mesmo um mal entendido. Só havia mais uma coisa.
- E como você explica ela nos seus favoritos do Snapchat?
- Por favor né Júlia, você sabe que só entro naquilo pra conversar com você. Temos mais de 20 dias de foguinho, que indica que trocamos imagens todos os dias durante mais de duas semanas. Só respondi uma mensagem dela e ela foi para os meus melhores amigos, pode acreditar.
- Hum. Aceitável, vou analisar o caso, mas agora tenho que ir. Minha irmã espera por mim para irmos ao dermatologista.
- Ok, vou te levar até o seu ponto de ônibus, o meu é logo em frente.
E, chegando lá, vi que o 64 se aproximava, mas eu não queria correr pra pegá-lo sem me despedir direito.
- Relaxa, eu pego o próximo.
E marcava cinco minutos para ele chegar, em que fomos nos despedindo, e quando eu disse que era melhor irmos cada um para seu lado, para não correr o risco de perder outro ônibus, ele me abraçou.
"Fica."
Foi a palavra mais doce que eu escutara em muito tempo. Foi quando percebi que nunca havia sequer abraçado meu melhor amigo. Quando notei que estávamos tremendo, e que aquele era o maior contato físico que estávamos tendo em anos. Quando percebi que não podia ser só amizade.
Foi o melhor abraço que eu já havia recebido. Eu podia sentir os olhos fechados, as mentes confusas, mas os corações a mil.

E mais uma vez vi o número 64 se aproximando. Dessa vez eu não iria perdê-lo.
Por um impulso me soltei daquele abraço e apertei sua mão gelada, partindo sem olhar pra trás.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Capítulo 3

Fui a primeira do quarto a acordar e, como sempre, despertei cedo mesmo tendo ido dormir tarde.
Minha mãe também já estava de pé, e fui ajudá-la a preparar a mesa.
-Bom dia filha, dormiu bem? O que achou da festa ontem? Te achei meio estranha na hora do parabéns, quando falaram o nome do Leal, o que foi aquilo? Ah, e você tinha me dito que ele era super extrovertido, mas achei muito tímido, nem consegui ver o aparelho dele porque só ficava sério.

Sim, eu contava tudo (ou quase) pra minha mãe.
Sim, o Artur ainda usava aparelho nos dentes, o que o deixa com mais carinha de criança.
E não, eu não queria falar sobre aquilo. Eu estava com raiva de quem eu acreditava ser um dos meus melhores amigos e queria fazer de tudo para esquecer o acontecimento da noite anterior.

Fui salva pelo Matheus, que acordara e estava descendo também, e aquele assunto acabou sendo adiado.
Em poucos minutos todos já haviam acordado, e nos juntamos para tomar café da manhã.

-Gente! Esse bolo fica mais gostoso a cada minuto que passa! - era a Laura, chocólatra e fanática por doces.
-Então ele é igual a você, princesa.
É, ela e o Matheus haviam realmente feito as pazes, caso contrário ele teria apanhado com esse comentário típico de um viciado em cantadas ruins.

Durante as duas horas que passamos ali, conversando, rindo e brincando, consegui distrair meu pensamento.
Graças a Deus meus amigos não tocaram no assunto "Leal", e decidi que o melhor a fazer era ignorar aquela situação, fingir que nunca havia cogitado a ideia de ficar com ele e que não me importava dele gostar de outra menina, apenas pra não estragar a amizade.

Liguei novamente meu celular, e ele havia respondido minha mensagem anterior mudando de assunto, o que significava que também ia ignorar a nossa "briga", e fiquei aliviada por não ter ficado um clima estranho entre a gente.

Passei o restante do dia descansando e me preparando para o segundo semestre de aulas, já que aquele era o último dia de recesso, e resolvi publicar no meu instagram, o vídeo que eu gravara na noite anterior - em que eu passava por cada um dos meus amigos e dava um "oi" - agradecendo-os por terem festejado minha primeira noite com 17 anos comigo.
E minutos depois a luz de notificação piscou na cor roxa - mensagem dele.
"Que fofa você no insta, nem avisou que ia postar né".
Não falei nada porque sabia que ele estava no clube - que infelizmente não era o mesmo que o meu - com o Romeu, seu amigo, e preferi deixar ele descobrir sozinho.
"Vc viu que foi o primeiro a aparecer no vídeo né? Sinta-se especial".
"Gostei do vídeo, só não gosto de você mesmo". Ih, já voltou a me irritar.
"Nossa, que amigável vc, fiquei com raiva, tchau".
"Nãããão, se vc tá com raiva, teremos que ir no cinema resolver a treta." Engraçadinho.

E eu ficava pensando se ele a tratava do mesmo jeito, se conversava com ela 24 horas por dia, assim como era comigo. Eu não conseguia acreditar.

Fui dormir cedo, queria estar descansada para o retorno das aulas, já que dali até o final do ano seria muito puxado, com uma imensidão de provas e trabalhos a fazer.

A minha sala este ano não estava das melhores. Minhas amigas mais próximas do colégio estavam na turma F, enquanto eu estava praticamente sozinha na A, e as que eu conhecia na minha classe, assentavam longe, e assim só me restava  ler ou mexer no celular na troca de professores.
E a manhã passou bem depressa, com professores tentando controlar os alunos, que voltam eufóricos mesmo tendo ficado apenas 15 dias sem ir à escola.

Já estava no final da tarde quando a minha intuição começou a alarmar.
Notei que o Artur havia ficado praticamente o dia inteiro online, mas nossas conversas não estavam rendendo. Tinha alguma coisa errada, eu tinha certeza. E minha intuição insistia em incluir o nome Renata nessa confusão. E ela nunca falhava.
"Vc tá estranha hoje Júlia"
"Você que tá"
"Aconteceu alguma coisa?"
"Eu que te pergunto"
"Olha, se for alguma coisa com a Renata, eu não to sabendo de nada"
Como assim???? Ele tinha acabado de se entregar!!! Não tocaria no nome dela a toa.
Eu estava com tanta raiva, mesmo sem saber o que exatamente estava acontecendo, que simplesmente saí do chat e fui desabafar no Twitter. Eu tinha essa mania. Disse que estava irritada, e que sempre que as coisas começavam a normalizar, surgia um problema.
Eu sabia que ele estava conversando com ela, eu conhecia aquele garoto bem demais pra ser enganada.
"Júlia, alguma daquelas indiretas são pra mim? Juro que não to entendendo nada"
"Eu juro que acho que está sim."
"Tá. Vou começar a falar"
Eu sabia.
"Hoje eu chamei a Renata, e ela disse que era melhor parar de conversar comigo, e nessa hora vc já estava estranha, mas se tiverem brigado, eu juro que não sei de nada, to totalmente perdido"
"Por que parar de falar com vc?" E como se eu fosse perder meu tempo brigando com ela. Aquilo não estava fazendo sentido.
 "Eu não sei, imaginei que fosse alguma coisa com vc"
"Olha, eu vou ser sincera. Não tinha nada contra ela, até que ela começou a me provocar, mas isso já tem tempo. Não sei o que rola entre vcs, mas tá chato pra mim, é só ela se aproximar que o clima fica ruim entre a gente. Não quero ficar falando mal, porque sei que são amigos, então de verdade não to entendendo por que ela falou isso."
"Júlia, vc sabe que ela é difícil, e vc pode simplesmente ignorar isso. Eu não quero ter que parar de conversar com ela."
Espera aí. Não quer parar de falar com ela, mas comigo pode?? Eu que tenho que ser a que releva tudo. 
"Nossa, por essa eu não esperava. Desse jeito não dá Artur, nossa amizade sempre foi super saudável, e agora vc simplesmente cai na lábia dela???"
"Vc entendeu tudo errado. Passo no seu colégio amanhã meio dia e meia, assim que vc sair da aula vou estar lá. Me encontra na saída e vamos almoçar juntos pra resolver isso, ok?"
"Ok"
"E sério, já nos afastamos uma vez, não quero que isso aconteça de novo"
"Acredite, eu também não, Artur. Mas também não quero atrapalhar sua vida"
"Isso tá muito confuso. Vamos mudar de assunto e amanhã a gente resolve"
"Tá, mas não podemos demorar, tenho compromisso às 16h"
"Ok."
E aí ele me mandou aquele emoticon gigante de coração. E o meu batia mil vezes mais rápido que aquele.
"Vc tá se expondo aí hein"
"Nem ligo. Eu te amo demais, viu?"
Ai senhor. Já havíamos falado isso, mas era complicado, eu não estava entendendo mais nada, então simplesmente mandei um coração gigante de volta e saí da conversa, deixaria o tempo resolver aquilo.
E a vantagem é que eu o veria  no dia seguinte...

(Um capítulo menor, mas cheio de emoções. E aí? O que estão achando???)

Filtro dos Sonhos


"Filtro dos sonhos é um amuleto típico da cultura indígena norte-americana que, supostamente, teria o poder de purificar as energias, separando os "sonhos negativos" dos "sonhos positivos", além de trazer sabedoria e sorte para quem o possui."

Me apaixonei por esse amuleto à primeira vista, quando a minha irmã voltou do Canadá com um desses, contando que havia aprendido a fazer lá, e me explicando o seu significado.
Desde então, dormimos com ele na janela, para que possa entrar na nossa casa apenas as energias boas, deixando os pesadelos presos do lado de fora.

Com o passar do tempo ele foi se desfazendo, perdeu as peninhas e as miçangas, então resolvemos comprar os materiais e fazer um novo.

Isso já tem mais de um ano, mas só hoje coloquei as mãos na massa.

O primeiro não ficou dos melhores, fiquei um pouco sem paciência e a telinha acabou ficando bem confusa kkkk.

Mas já no segundo fiz com mais calma e adorei o resultado!

Espero que vocês gostem também!!

(mãe, se você estiver vendo isso, não me mate por ter arrancado três peninhas azuis do meus vestido de 15 anos, te dou esse filtro dos sonhos como recompensa). kkkkkkk
Beijos, ju

@jumacedoq

@livrosepaixoes_
 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Capítulo 2

Acordei assustada procurando por um relógio, parecia que eu tinha dormido por dias e vivido uma fantasia. Peguei meu celular para verificar as horas, mas ainda era oito da manhã. Corri e abri minhas mensagens, pensando que tudo tinha sido um sonho, mas o que eu li me provou o contrário.

Eu sabia que o Artur passaria o dia em seu campeonato, tinha virado a noite esperando por isso, e então decidi deixar aquela história para a noite, já que eu iria encontrá-lo e poderia observar melhor sua reação.

Enquanto respondia algumas mensagens que havia recebido durante a noite, escuto um barulho suspeito pela casa, e logo minha mãe me grita do andar de baixo, dizendo para eu descer e tomar café com ela e com a Clara. E do meio das escadas já pude ver a mesa de café da manhã, com direito a lindas flores da minha cor preferida: laranja! Sei que pode parecer estranho, escuto a pergunta do "Mas por que laranja? Que cor mais estranha!" com frequência, mas simplesmente não sei o motivo, desde criança foi assim, e essa cor me transmite energia, deixa tudo mais alegre.

Desço o restante das escadas correndo e pulando degraus, sendo recebida por um abraço das minhas duas maluquinhas, que sabem como me alegrar com coisas simples. Conversamos, rimos e comemos das minhas guloseimas preferidas até ser interrompida por um telefonema do meu pai.
- Bom dia, Juju, agora são exatamente 10h13min, o horário que você nasceu! Feliz aniversário, filha! Que horas posso passar aí para almoçarmos juntos? Não vou poder demorar muito, mas preciso te dar um abraço!
Como já devem estar imaginando, meus pais não estão mais juntos. Eles resolveram se separar quando eu tinha 10 anos, o que foi muito duro durante algum tempo. Sempre fui muito apegada aos dois, e ver a nossa família dividida me fez sofrer muito durante o início. Com o passar dos meses e horas de conversas principalmente com minha mãe, fui percebendo que aquilo seria realmente melhor para os quatro, e que um casal só pode sobreviver a partir de muito amor, o que, segundo eles, não existia mais naquela relação. E agora, depois de mais seis anos, eu já entendia perfeitamente.

Acontece que havia um probleminha. A minha madrasta. Não pensem que sou uma ciumenta e possessiva que não aceita dividir o pai, não é isso. No início da relação deles, nos dávamos bem, a convivência era tranquila e até harmoniosa, mas isso não durou muito tempo. Depois de uma viagem que fizemos com a família dele, que incluía a enteada de, na época, uns 6 anos, o clima só piorou. Jéssica, a menina, era uma gracinha, mas a mãe começou a não colaborar para uma boa convivência, e depois de muitas indiretas e brigas com meu pai por causa disso, eu e minha irmã decidimos que não daria para continuar daquele jeito, e preferíamos evitar convivência com elas. Claro que isso gerou ainda mais conflitos, mas com um tempo ele percebeu que realmente estava difícil daquele jeito, e desde então nós não víamos as duas.
De vez em quando ele ainda sugere de encontrarmos com elas, mas sei que insistir em algo que já não deu certo, muitas vezes é cometer um erro ainda maior, e por enquanto prefiro evitar a situação. Isso desgasta, já que constantemente sua esposa resolve implicar até com os almoços de domingo que temos com ele, e olha que nem é toda semana. Mas tento relevar e evitar maiores brigas.
- Obrigada, pai. Pode passar aqui meio dia e meia?
Combinamos esse horário, e tenho que agilizar para me arrumar enquanto minha mãe retira a mesa, dizendo que no meu dia eu não precisava ajudar.
- E não esqueça que você tem que estar de volta às quatro e meia para ir ao salão - ela me lembra.
Mas nem precisava se preocupar, os passeios com ele não costumam ser demorados, e vocês já devem imaginar o motivo.

Tomei um banho rápido, já que mais tarde iria cortar o cabelo, e em menos de meia hora eu a Clara já estávamos prontas para ir. Resolvi checar novamente as mensagens e respondi as principais enquanto esperava meu pai.

De: Lulu Oliveira
Para: Ju Macedo

Menina, tá ficando velha mesmo, hein? Ano que vem já vou ter motorista pra me levar pras baladas! Não vejo a hora! Descansa muito aí durante o dia, porque vamos botar pra quebrar à noite! Parabéns pra minha idosinha!
P.S.: Nem pra você convidar uns gatinhos da sua escola né... posso levar o Thi pra compensar?

A Luísa é outra das minhas melhores amigas, mas que nem sempre foi assim. Quando saí da minha antiga escola, conhecia-a apenas de vista, mas ela e a Bia acabaram indo a uma festa juntas e se aproximaram muito. É claro que no começo eu morria de ciúmes, sentia que seria substituída por aquela patricinha metida que roubaria minha melhor amiga de mim. Mas com o tempo elas me convenceram do contrário, e agora somos muito próximas também. Sei que elas acabam tendo mais contato, por serem da mesma sala e se verem todos os dias, mas aprendi a lidar com isso quando vi que eu não seria abandonada. E assim é ela, apesar de ser adiantada na escola e ter um ano a menos que eu, ama sair, paquerar, conhecer gente nova e é super extrovertida.

Re.:
De: Ju Macedo
Para: Lulu Almeida

HAHAHAHA, tá achando que vai me explorar ano que vem né? Não tem nada disso de botar pra quebrar, já te falei que vai ter no máximo umas 20 pessoas, então também não tinha porque chamar meus colegas gatinhos, nem converso com eles direito. Mas sim, pode trazer o Thiago, sua danada.



De: Arara Laura
Para: Ju Macedo

AMIGAAAAAAAAA, parabéeeeeens! Só tenho que te agradecer por você ter passado mais um aninho ao meu lado, sendo mãe pra puxar minha orelha, conselheira, e melhor companheira de festinhas.  Te vejo mais tarde! 
P.S.: Vê se com 17 anos você para de se apaixonar pelos caras errados, não aguento mais suas crises!
P.S.2: O Matheus vai?

Re.:
De: Ju Macedo
Para: Arara Laura

Obrigada pelo carinho, sua fofa. Fica tranquila que não vou te contar mais nada, pra você não ter que aguentar minhas "crises". Não sei ainda se ele vai, me falou que tá no sítio e vai ver se consegue chegar a tempo.
Bjs da sua amada


Finalmente, a terceira amiga. Não em ordem de importância, mas essas são as que eu conto tudo, peço conselhos e encho a paciência com minhas paixonites. A Laura é de longe a mais doidinha, é da minha sala desde que mudei para o atual colégio, e desde lá somos inseparáveis. Fala de mim, mas não pode ver um menino com o nome Matheus que já está apaixonada. O "atual" é meu amigo de infância. Tento unir esse casal há dois anos, mas apesar de darem super certo, dizem que não querem nada sério por agora. Pelo jeito que ela falou, devem estar brigados...

*****

Consigo responder a maioria das mensagens antes de ouvir a buzina na porta de casa.
Depois de irmos ao meu restaurante favorito e comer da melhor comida vegetariana existente (apesar de eu não ser, viveria bem sem comer carnes) ganho a bota que eu estava de olho a dias como presente, o que me deixa ainda mais animada para a noite. Meu pai não iria à minha festinha, graças a briga que existe entre ele e minha mãe, mas eu já estava até acostumada com isso. Mesmo assim agradeci pela tarde que tivemos juntos e exatamente no horário marcado ele me deixa no salão.
 
- E aí, vamos fazer um corte Chanel?
No ano anterior, nessa época, meu cabelo estava na altura da cintura, sou apaixonada por cabelos longos! Apesar disso, incentivada por uma campanha chamada "Doe seu cabelo", cortei 30 centímetros e enviei para uma instituição adequada. Não me arrependi um segundo sequer, porque fazer o bem a quem precisa é sempre uma satisfação enorme. Só que agora, quase doze meses depois, meu cabelo finalmente começava a atingir um tamanho maior novamente, e consegui convencer meu cabeleireiro e minha irmã - que são super a favor de mudanças radicais no visual - a cortar somente os famosos "dois dedinhos", com a promessa de que doaria mais alguns centímetros novamente quando tivesse longo o bastante.

Quando voltei para a casa, faltavam menos duas horas para o horário marcado, já que havia combinado às 19h30min. Concluí os preparatórios em casa e fui me arrumar. O tempo estava agradável por ser período de inverno, e assim me vesti com uma calça flare clara, uma blusa salmão arrumadinha que ainda não havia sido usada e minhas botas novas. Completei com uma maquiagem simples feita por minha irmã, que já foi modelo e está super ligada nessas questões e me sentei para esperar os convidados.
Logo logo todas as meninas já estavam presentes. Lucas foi com a Bia e com a Lu, que estava emburrada. Tinha também o Matheus, que havia conseguido chegar a tempo. Em poucos minutos, os amigos da escola atual já estavam totalmente enturmados com os outros, e todos pareciam felizes. Mas faltava alguém, e isso não me deixava em paz.
Pego o celular, e, nervosa, olho o relógio: 21h15min.
Decido enviar uma mensagem: "vai vir não, trem?" coisa de mineiro né. Ainda por cima fingindo nem estar super ansiosa para que ele chegasse logo. Cinco minutos depois recebo resposta "abre o portão pq eu tô chegando".
Era a primeira vez que o Artur ia à minha casa, já que moramos a quase quarenta minutos de distância de carro e eu nunca tinha tido a oportunidade de convidá-lo.
Assim que o vi, percebi que estava diferente. Sabia que ele tinha cortado o cabelo, e os cachinhos morenos tinham ido embora, mas não era isso. Senti que estava tímido, com vergonha ou medo, não sei. Então tentei animá-lo dizendo que iria apresentá-lo para minha mãe, o que só deixou o garoto ainda mais assustado.
Ai meu Deus, o que eu estou fazendo? Mas acabei indo em frente, e minha mãe adorou conhecer o "amigo que eu ia ao cinema junto e conversava o dia inteiro pelo celular", como sempre, me fazendo morrer de vergonha.
Levei-o até meus amigos, apresentei aos que não conhecia e tentei deixá-lo à vontade, mas não sei o que estava acontecendo, aquele Artur super brincalhão não estava ali, e era a primeira vez que eu o presenciava assim, cena que nunca imaginava ser possível.

O tempo foi passando e de repente vi ele conversando e rindo com o Matheus.
Ficar com ciúmes ou feliz por ver meus dois melhores amigos super entrosados? Fui até lá rapidamente ver o que estava acontecendo.
E pronto. Olhar para o celular na mão do Artur foi suficiente para uma crise de paranoias minhas. Ver aquele nome, bem embaixo do meu, nos favoritos do Snapchat me fez pensar em mil coisas.

Renata. Esse é o nome da garota que faz de tudo para estragar nossa amizade.
Eles foram da mesma sala ano passado, e foi quando se aproximaram e o Artur se afastou de mim. Eu não conseguia acreditar que ele estava fazendo aquilo quando ouvia as vozes estridentes da menina gritar nos corredores do colégio.
- Leal, vem aqui agora! Tenho que falar com você, bffo.
Ai. Como aquilo me irritava. E o pior não era ele ser um dos que iam igual cachorrinho "cumprir" as ordens dela. É que, no ano anterior, ele era quem mais a criticava, dizendo ser metida e insuportável.

Depois de um tempo nos reaproximamos, e eu tentava ignorar aquele amizade estranha, mas agora era demais.
Pode ser ciúmes e egoísmo, mas fui eu quem o incentivou a usá-lo aquele aplicativo de trocar imagens instantâneas, e ele dizia que só entrava pra falar comigo.
- E agora? Como você explica esse nome aí nos seus favoritos? Você me enganou, Artur, eu não confio mais em você.
Encontrei com um olhar perdido, que parecia não entender de onde vinha a minha bravura, mas ignorei e saí pisando forte pra mostrar que eu realmente estava com raiva.

- Ai Ju, o que aconteceu? Pode falar comigo, você sabe que não comento com ninguém.
A Bia, que tinha visto a cena, foi correndo falar comigo, e foi quando eu desabei.
- É ela! Eu sabia! Eu sabia que não devia ter nem pensado na possibilidade de um dia ficarmos juntos. Ele gosta dela, Bia. Acabou. Mesmo sabendo que provavelmente não role nada entre os dois, porque ela só da em cima de todo mundo e depois cai fora, eu sei que faria de tudo pra atrapalhar uma futura relação nossa. Eu quero chorar, ele me enganou!
Depois de muito drama enquanto explicava a história  todo para minha amiga, ela finalmente conseguiu me acalmar.
- Nós vamos voltar lá pra fora agora, e você vai fingir que nada aconteceu. Se for preciso, ignore o Artur, mas não deixe que ele estrague sua noite que estava tão animada. Depois vocês resolvem isso, e ainda acho que isso tudo não passa de um mal entendido.
- Você é a melhor pessoa do mundo! Obrigada por me entender! Vou ignorar aquele idiota até ele aprender a dar valor pros meus sentimentos!
E foi o que fiz. Não falei com ele até a hora de cantar parabéns, e nem me importava se ele estava deslocado ou não. Estava disposta a ficar assim pelo resto da noite, até que minha mãe chegou com meus parentes na área em que eu estava.
- Filha, vamos cantar parabéns para que sua avó possa ir embora, você sabe que ela gosta de dormir cedo, mas já avisei seus amigos que podem ficar até o dia amanhecer se quiserem.

Fingi que estava tudo bem e fui para trás da mesa do bolo.
Já morro de vergonha nesses momentos, em que a atenção se concentra em mim, e ainda por cima nunca sei se devo cantar "parabéns pra você" ou ficar calada, bater palmas ou deixar as mãos aleatórias quando o aniversário é meu. Mas sempre pode piorar. O famoso "com quem será?". Rezo mentalmente para que falem o nome de algum famoso lindo, ou de um crush desconhecido, mas escuto o namorado da Bia gritando "É COM O LEAAAAAL, É COM LEAAAL, É COM O LEAL QUE A JÚLIA VAI CASAR". Merda, é claro que ela contou pra ele. Pelo menos as pessoas ali presentes não levam a sério, pensam ser uma brincadeira, já que ninguém imagina o que realmente se passa entre eu e o Artur.

Ignoro aquela gritaria assopro as velinhas com os olhos apertados "além de saúde pra toda a minha família, esse ano eu quero um amor de verdade, cansei de sofrer por paixonites que só me fazem sofrer".
- Terminou seu testamento testamento, Júlia? Vamos partir o bolo!
Huuum, bolo. Esqueci toda a raiva que estava sentido, comida boa é meu ponto fraco, e melhor do que o Bolo Indiano da minha mãe, não existe!
Meus amigos sabem que não gosto de escolher pra quem vai o primeiro pedaço, sou extremamente indecisa, então pedi a ela que partisse e fui entregando para cada um.
- Não vai querer? - perguntei pro Artur enquanto segurava o pratinho na sua frente.
- Não, valeu.
- Se eu fosse você, eu comeria, é a melhor coisa que vai ter experimentado esse ano.
- Mas eu não quero.
- Ah, quer saber, tá bom, você vai se arrepender, mas é bom que sobra mais pra mim.

Me despedi das poucas pessoas da família que estavam lá e voltei para fora.
Apesar da situação inconveniente que havia ocorrido, eu estava feliz. Tinha dado tudo certo.
Passei um tempo observando meus amigos - Bia e Lucas na rede, com olhares apaixonados de quem começara a namorar a poucos dias, Matheus e Laura conversando, eu esperava que fosse fazendo as pazes, Luísa estava no que eu imagino ser um desabafo com minha irmã, já que o Thiago não havia aparecido.
Enquanto isso minhas outras amigas riam e se divertiam em um grupinho que incluía o Artur.
Poucos minutos depois, as meninas vieram me falar que estavam indo embora juntas, que os pais determinaram que deviam estar em casa em meia hora. Acompanhei-as até o portão e esperei o táxi chegar.

Restara agora apenas a Bia, a Laura e o Matheus - que iriam dormir na minha casa por não terem como voltar - Lucas e Artur, que combinaram de ir embora juntos por morarem perto, e minha irmã.

O frio estava apertando, e resolvemos ficar dentro de casa, onde estava mais agradável.

- Ju, você tem baralho? Vamos jogar! - era o Lucas, como sempre todo animado.
- Ter eu tenho, mas não estou muito afim. Vou pegar e vocês podem jogar sem mim, não me importo!

Quando voltei com as cartas na mão, estavam todos na mesa, menos no Artur.

- Já insistimos com ele, mas disse que também não vai participar.

Deixei o baralho na mesa e assentei no sofá, queria pensar um pouco.
Mas é claro que ele não deixou, e veio me atormentar.
- Se você jogar, eu jogo.
- Artur, eu já falei que não quero. Se você quer tanto, vai ué.
- Só vou se você for.
- Então você não vai.
-Para de pirraça e vem Júlia, vou te ensinar a jogar truco, ainda não acredito que você não saiba.
-Artur, não vai adiantar. Eu não quero e não vou jogar, desiste.

Depois disso, ele finalmente parou de insistir no jogo. Apenas no jogo.

-Então vai, coloca esse fone aqui, vou te mostrar uma música.

Eu já ia rejeitar de novo, mas nem ânimo pra isso eu tinha, então simplesmente deixei que ele colocasse aquele fone desajeitado no meu ouvido.
Não sei que música tocou. Com certeza devia ser um Rap internacional daqueles que ele escuta o dia todo, mas não prestei atenção em meia palavra.
Ao invés disso, peguei meu celular e fui responder mensagens de colegas, que acabei desistindo também ao lembrar que já era dia 31, e meu dia feliz tinha acabado.
Com o tempo o Artur desistiu de tentar obter respostas minhas, e apenas continuou do meu lado, cada um com um lado do fone de ouvido, ouvindo músicas aleatórias. Pelo menos agora eu estava em paz.

-Leal, que demora é essa amigo? Vai beijar a aniversariante não?
Eu. Odeio. O. Lucas.
-É mesmo ou, até eu já saquei tudo aí, para de enrolação e beija logo.
Mentira que minha irmã também havia entrado nessa.

Retruquei dizendo que eles estavam viajando na maionese, mas claro que a brincadeirinha só continuou, enquanto o garoto ficava do meu lado meio sem reação.

Logo o Lucas falou que eles iriam embora, e finalmente fiquei livre.
Claro que eu amava meus amigos, e a noite com eles havia sido maravilhosa, mas eu não aguentava mais ser perturbada com aquelas bobeiras.

Já passava das três da manhã, e resolvemos ir deitar.
Eu dividia o quarto com minha irmã, por motivos de medo de dormir sozinha quando era pequena (que voltava às vezes... mas só de vez em quando...), então organizei o quarto para as quatro garotas, e o Matheus isolado no escritório. Até onde eu havia reparado, ele a Lara haviam feito as pazes, mas não estavam ficando, mas esse assunto ficaria pra depois, já que em poucos minutos a casa já estava silenciosa, e apenas eu não conseguia dormir. O assunto "Artur" não saía da minha cabeça.

Depois de algum tempo criando hipóteses malucas, aceitei a de que ele realmente gostava da Renata, já que se fosse comigo, ele teria falado alguma coisa hoje. Aquilo tudo provavelmente não havia passado de loucuras da minha cabeça, e aquela legenda não queria dizer nada.

Enfim enviei uma mensagem para ele, apenas para aliviar minha consciência "ignora tudo que todo mundo falou hoje, não passa de um mal entendido", desliguei o telefone, não queria mais conversa por hoje.
E enfim adormeci.


(mais uma vez ficarei feliz com comentários a respeito do que estão achando da história e da escrita, muito obrigada pelo carinho e pela atenção <3)

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O Cão dos Baskerville - Resenha

Minha primeira leitura finalizada em 2017... e valeu a pena!
@livrosepaixoes_ / @jumacedoq
(meu gatinho parecendo ser bravo, mas é um amor só!)

Para os fãs de Romance Policial, esse não pode passar despercebido.

Ouvia recomendações dessa história envolvendo mais um dos misteriosos casos de Sherlock Holmes a anos, e finalmente tive a oportunidade de ler.

Nesse caso, o detetive e seu fiel parceiro Watson investigam a morte do Sir Charles Baskerville, um milionário inglês encontrado morto em um pântano próximo de seu lar. Conta a lenda que Charles havia sido assassinado por um cão que assombrava a região, conhecido por matar gerações da família Baskerville. A causa mais provável pela morte de Charles, no entanto, seria um ataque cardíaco, já que não apresentava ferimentos.

Após a morte do milionário, seu sobrinho assumiria a mansão da família. Entretanto, Sherlock Holmes foi chamado para investigar o caso e descobrir se o futuro proprietário da mansão teria o mesmo destino de seus antepassados.

Sua missão é desvendar o mistério da lenda que assombra as gerações dos Baskervilles, e garanto que você não vai querer largar do livro até terminá-lo.

Confesso que sou um pouco medrosa, e não conseguia ler o livro durante a noite (sério), mas se não fosse por isso, seria capaz de lê-lo em questão de horas. Mais uma vez Sherlock Holmes nos deixa totalmente encabulados e loucos para chegar ao  final da história!


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Capítulo 1


Faltam 10 minutos para o meu aniversário. São 23h50min do dia 29 de julho e, se me perguntassem o que passa pela minha cabeça nesse momento, eu realmente não sei o que responderia.

Em primeiro lugar, tudo isso pode parecer bobeira, já vou completar 17 anos, mas queria minha mãe aqui comigo agora.
Tá, até aí tudo bem, mas é que ela está no cômodo ao lado, dormindo porque diz estar muito cansada.

Acontece que, até ano passado, em todos aniversários em que me lembro, ela virou essa data comigo, esperando a meia noite para cantar parabéns e me dar um abraço apertado mesmo estando caindo de sono.

E o pior é que acabei brigando feio com ela por causa disso. Fui até lá pulando de alegria, pensando que ela estaria na mesma vibe que eu e acabei sendo repreendida, escutando um resmungo de "vai pra sua cama Júlia, eu preciso dormir, trabalhei o dia todo e não estou de férias como você pra estar nesse pique a essa hora da noite. Amanhã a gente comemora."

Poxa, não precisava falar desse jeito, né?! 10 minutinhos a menos de sono não fariam tanta diferença assim. Retruquei dizendo que ela era insensível e egoísta, e que eu só achei que ela iria querer ser a primeira a me desejar um feliz aniversário como sempre havia sido e voltei com lágrimas de raiva para o meu quarto, onde ainda tinha a minha irmã, que também já estava apagada.

Clara é menos de dois anos mais velha que eu, mas parece ter uns duzentos! Até alguns anos atrás conseguia fazê-la ficar acordada também, mas agora nem tento mais, a mania de dormir cedo aqui em casa é maior que tudo, e olha que estamos de férias!.

Na ansiedade dos últimos minutos com 16 anos, me deitei novamente e comecei a pensar em quem seria então a primeira pessoa a me mandar mensagem. A Bia, minha melhor amiga, conheceu um cara recentemente e agora só que saber de namorar, nem deve estar lembrando mais da data. Luísa e Laura, minhas duas outras companheiras nem se fala... hoje é sexta feira, com certeza estão aprontando alguma.

Pego meu celular pra olhar as horas e parece ter passado uma eternidade, mas ainda faltam 4 minutos para o grande dia.
Vejo a luz de notificação piscando na cor roxa, e isso só pode significar uma coisa... mensagem do Artur.
Mas calma, não vá se apressando, não é o que pensa. Mais conhecido pelos amigos como "Leal", que é seu sobrenome, o menino da mensagem é um amigo das antigas. Nem muito alto, nem baixo, assim como eu, que tenho 1,73m, olhos pequenos e cabelos castanhos, ondulados quando estão maiores.
Nos conhecemos a 2 anos e meio, quando ele teve que repetir de ano e foi para a minha sala. Desde então, ele é visto por todos do colégio como o engraçadinho, aquele que faz piadas durante todas as aulas e se diverte zombando das meninas. Mas comigo é um pouco diferente.
Claro que levei mais de um ano e meio pra que ele parasse de fazer tanta gracinha comigo e me levasse pelo menos um pouco a sério, mas com a amizade que criamos se fortalecendo tanto, eu o vejo agora como meu melhor amigo, aquele que conversa comigo desde os assuntos mais bobos até questões de conflitos familiares... mas então, essa história vai ficar pra mais tarde.
Abro o chat e é ele, dizendo já estar preparado para a legenda da minha foto de aniversário, que dessa vez vai surpreender, e já até imagino o nível da piada! Faltam apenas 2 minutos, e até ele sai do chat e me deixa sozinha na conversa.

Escuto barulho de pés batendo no corredor, e de repente sou pega de surpresa pela minha mãe, que invade meu quarto pulando e cantando. Nesse momento meus olhos já começam a encher de água. Eu sabia! Nos damos bem demais para passar esse dia em um clima ruim. Reconheço que fui um pouco dramática e ela também se desculpa por ter sido fria comigo logo nesse dia. Eu simplesmente A-M-O fazer aniversário. Para mim é um dia mágico, em que tudo tem mais cor e parece magia. Agradeço por ela ser tão perfeita para mim e digo para ir descansar, já que teria que aguentar meu ânimo sem fim durante meu dia preferido do ano quando acordasse.
Respiro aliviada, e vou checar a primeira mensagem, que é de uma amiga da minha antiga escola, fazendo um textinho super fofo! Incrível como mesmo com a distância física nos sentimos tão conectados a outras pessoas!
A próxima é do Artur, que diz apenas "olha o instagram"
Vou correndo verificar, ansiosa pra saber qual foto ele escolhera e, principalmente, doida para ver a legenda.

Não sei quanto tempo passo encarando o celular, em choque com o que estou vendo. Primeiramente, não imaginava que ele postaria exatamente à meia noite, muito menos se tratando daquela foto e de uma legenda daquelas.
Comecei a relembrar o dia em que a foto fora tirada, havia mais ou menos duas semanas. Eram férias de julho, e como ele tinha mudado de colégio no final do ano anterior, isso impedia que nos víssemos com frequência, mas conversávamos por mensagens o dia inteiro. Acontece que acabamos discutindo no início das férias e decidimos marcar de encontrar pra resolver a questão, já que ele sabe que prefiro resolver essas coisas pessoalmente.
Combinamos de ir ao cinema, escolheríamos o filme lá, já que tinham vários bons em cartaz.
Bem, mas não foi exatamente assim que aconteceu. Desde que eu o conhecia, o Artur tinha um cachorrinho muito fofo, mas que eu ainda não tinha visto pessoalmente, era apenas a fã virtual. Ele não passava uma semana sem me enviar fotos do Bambam, e eu sonhava em conhecer aquele bichinho.
Naquele dia fiquei sabendo que a mãe dele poderia levá-lo até o shopping para eu realizar meu desejo, e, ao encontrarmos na entrada do Pátio Savassi, eu me encantei ainda mais por aquele Jack Russell Terrie.
Fiquei fazendo aquele carinho na orelha que ele amava até que sua mãe o levasse embora, e então tivemos que nos encarar de verdade.

Pelas experiências que eu tinha de brigas entre amigos, pensei que aquele seria o momento em que ficaria o maior climão, um encarando o outro sem saber por onde começar até que um começasse a descarregar sua raiva no outro, mas não foi bem assim que aconteceu.
Assim que ele voltou do carro, após ter entregue o cachorrinho para sua mãe, Artur veio correndo e me abriu o maior sorriso. Bem, na verdade eu não deveria ter pensado que nossa discussão seria como os da telinha de cinema, tratando-se de um garoto totalmente peculiar como ele.
Acabei cedendo e dei um sorriso também, retribuindo o abraço, mas logo me lembrei que eu não estava ali para isso e falei para irmos andando enquanto discutíamos.
-É... bem... na verdade, por que a gente brigou mesmo?
O meu primeiro sentimento ao ouvir aquilo, foi de raiva. Como assim ele não lembrava da nossa briga? Já ia começar a xingar quando percebi que também havia esquecido o motivo, e acabei caindo numa crise de riso.
-Vai me dizer que também não lembra?
Acontece que, na verdade, isso estava acontecendo porque a um tempo percebemos que brigar por telefone nunca dava em nada, e resolvemos adotar um método semelhante ao de Lilly e Marshall da série How I Met Your Mother. Adaptamos a nossa "Pausa" para a seguinte situação: quando percebêssemos que estávamos caindo em uma daquelas briguinhas bobas sem fim por meio de mensagens, daríamos uma "pausa" na confusão, mudando de assunto e aguardando para resolver a questão quando nos encontrássemos.
-É... na verdade essa ideia da pausa  pode não ser uma boa, acabei realmente me esquecendo também, seu bobo.
-Se nós dois esquecemos, é porque era uma coisa muito boba Júlia, vamos logo parar de perder tempo e escolher o filme que será a trilha sonora do início da nossa história de amor.
É claro que ele estava brincando, esse era seu jeito, sempre fazendo gracinhas que me faziam rir e revirar os olhos ao mesmo tempo.
Na fila para comprar os ingressos, começamos a pensar qual filme seria melhor. Logo de cara já falei de "Carrossel 2" zombando dele por assistir a novela infantil referente ao filme. A segunda opção era "Procurando Dory", que eu achava fofo, mas ele já havia assistido. "Truque de mestre 2" eu já combinara de assistir com meu pai, e "Como eu era antes de você" eu tinha assistido na mesma semana com algumas amigas e, além disso, até onde eu sabia, o Artur jamais aceitaria assistir um filme de comédia romântica.
-É, acho que a melhor opção vai ser Dory mesmo, faço o sacrifício de assistir de novo com você.
E mais uma vez sorri e revirei os olhos.

O filme logo começou, e em meio as cenas fofas e as piadas que ele fazia, fui lembrando das perguntas que minhas amigas haviam feito quando falei que iria ao cinema com o Artur. "Não estou acreditandoooo, você vai ficar com ele??? Se não, não tem vergonha do clima que vai ficar???? Ele só pode estar com segundas intenções sua boba". Mas eu acabei convencendo as meninas de que aquilo era apenas amizade e não via problema algum em ir assistir um filme com meu melhor amigo. Afinal de contas, realmente não estava pintando nenhum clima ali, éramos apenas duas pessoas normais na sala de cinema.
Eu realmente gostava dele como amigo, uma pessoa que sempre alegra o ambiente mas que, comigo, sabia o momento de levar uma conversa a sério.
Nem vi o tempo passando, e ele me falou que o filme já estava chegando no final. Estava em uma cena em que ocorria uma perseguição, e, bem no momento que apareceu o carro de polícia na tela, vi uma luz vermelha piscando nas duas laterais da sala de cinema. Num primeiro momento, pensei que aquilo pudesse ser um efeito especial do filme, já que na cena havia uma sirene acionada. Porém, pensei que isso não seria possível, já que nem 3D o filme era. Comecei a ficar desesperada quando o Artur me disse que não lembrava de ter visto isso quando assistiu o filme pela primeira vez, e foi quando a porta de emergência se abriu e várias pessoas começaram a sair da sala em pânico. Eu estava em choque, não sabia o que fazer, nem o que estava acontecendo, só pensei em segurar na mão dele e tentar sair dali o mais rápido possível. Só conseguia pensar em tragédias acontecendo dentro do shopping e centenas de pessoas desesperadas sem saber o que fazer. Mas a sorte acabou ficando do nosso lado, e em poucos minutos um rapaz que trabalhava no cinema nos informou que havia sido apenas um alarme falso que algum engraçadinho devia ter acionado para assustar as pessoas. Voltamos aliviados para os nossos assentos para terminar de ver o filme, mas eu não conseguia concentrar e parar de sorrir de felicidade por não ter sido nada grave. E então passamos o restinho da sessão rindo e comemorando, apesar dele não admitir que também tinha ficado morrendo de medo. Quando o filme terminou, ainda sem acreditar no que havia acontecido, tiramos uma foto pra registrar aquele momento, de um dia maluco que eu contaria depois como a minha "experiência de quase-morte".

E agora, aqui está aquela foto. Os dois na sala de cinema quase vazia enquanto passavam os créditos do filme, eu com a cabeça em seu ombro e ele fazendo o sinal de joia com a mão. Na legenda eu pude ler a frase que mudou tudo. Na mesma hora chegou notificação de mensagem do Artur dizendo "escuta a música quando der", e foi o que eu fiz imediatamente. 
Não sabia quanto tempo tinha passado, até eu perceber que estava escutando a música pela sétima vez seguida, sem acreditar na letra que eu estava lendo. O trecho que ele escolhera para mim dizia "You know my style, I say anything to make you smile" e eu não sei qual foi o feitiço que ele jogou naquela canção, mas a cada vez que eu escutava a música eu enlouquecia mais.

Nessa meia hora que se passou foi que eu comecei a pensar em tudo. Eu podia estar alterada pelas fortes emoções que me atingem no meu aniversário, mas e se essa demonstração de carinho tivesse lá suas segundas intenções? O Artur realmente fazia de tudo para me alegrar, e sempre conseguia me animar em dias ruins. Lembrei-me do dia do cinema, em que depois do filme fomos passear pelo shopping, o que até hoje chamamos de "maratona", de tantas voltas que demos. Mas eu nem tinha visto o tempo passar, ao lado dele a conversa sempre fluía e o clima ficava agradável. E então, quando minha mãe ligou dizendo estar chegando para me buscar, senti um aperto no peito. Eu não queria ir. Além do mais, minha mãe queria que eu fosse com ela em uma exposição de cavalos que estava tendo em BH, dizendo que queria minha companhia. Artur insistia para que eu pedisse para ficar e assistisse a mais um filme com ele, e poderia até ser aquele romântico. Mas nessa hora me bateu um desespero, eu não sabia o que faria se ficasse um clima entre a gente, não tinha pensado a respeito e acabei indo embora para evitar confusão.

É claro que o passeio com minha mãe foi um saco. Quando chegamos lá, ela acabou encontrando com alguns amigos, e cada vez eu me perguntava mais o que estava fazendo naquele lugar, enquanto poderia estar vendo um filme legal com meu melhor amigo.
Estava pensando nisso quando ela me chamou dizendo que seu amigo me levaria em casa, porque eles ainda ficariam muito tempo lá, e que se fosse pra ficar com cara ruim era melhor ter ficado mesmo no shopping para ver o outro filme. Não acreditava que ela estava falando aquilo depois de ter praticamente me obrigado a ir, mas respirei fundo e me despedi.
Chegando em casa preferi afastar esses pensamentos, já que, pelas mensagens que recebi do Artur, ele não demonstrava segundas intenções. E eu realmente tentei não pensar mais nisso. Até agora.

Sabia que precisava me acalmar e colocar os pensamentos em ordem, mas parecia algo impossível no momento. Ele estava me perguntando se eu havia escutado, e o que tinha achado, e respondi dizendo que ele realmente me surpreendera, falei que a música tinha acabado comigo e que eu não conseguia parar de escutar. Não sei se nesse momento ele já tinha percebido o que eu estava pensando, mas acredito que sim, porque os dois acabaram ficando sem palavras.

Com uma mistura de sentimentos e lembranças loucas que me atingiram naquele momento, fechei os olhos e coloquei a música pra tocar mais uma vez, e foi quando a Bia me chamou.
Morena, linda, magra, alta, dramática e super simpática é como eu defino minha melhor amiga. Nos conhecemos aos 11 anos, e, estudando na mesma sala de aula, com um ano de amizade já éramos inseparáveis. Quando estava indo para o oitavo ano do Ensino Fundamental, minha mãe decidiu me mudar de colégio, e foi um drama só. Eu amava minha escola, amava meus amigos, amava aquele lugar e não queria deixá-lo de jeito nenhum, mas com o tempo fui me adaptando ao novo ambiente e vi que aquilo seria melhor para mim. Mas, antes disso, eu e a Bia fizemos um juramento, com direito a cuspe na mão e promessa de não abandonar aquela amizade, que, até hoje, estava sendo muito bem cumprida.
E agora, no meu sexto aniversário tendo essa quase irmã, ela ainda me encantava com seu carinho e humor. Li e reli o textinho de feliz aniversário que ela me mandara, muito agradecida por ter uma pessoa que me entenda tão bem.

A comemoração do meu aniversário de 17 anos seria naquele dia mesmo, na minha casa e só para os amigos mais próximos. Contava com cerca de quinze pessoas para passar aquela noite comigo, e estava pensando em como seria o meu dia quando a Bia me ligou. Corri para o andar de baixo da minha casa para que pudesse conversar sem causar problemas com minha família dorminhoca e atendi a chamada escutando um grito de "PARABÉEEEEENS" que quase me deixou surda, e depois de me desejar novamente um feliz aniversário, a doidinha foi ao que interessa:
-Bem Ju, na verdade, eu te liguei pra perguntar uma coisa... - lá vem, já posso me preparar pra bomba - é que você sabe que eu to namorando com o Lucas... e como seria legal a gente poder sair em casais... e você tá ficando com o Dino né... e nós pensamos se você não iria querer chamar ele pra ir hoje... além de ser companhia pro Lu você ainda garante umas beijocas!
A não, ia começar aquela historinha de novo. Eu precisava interromper antes de gerar mais uma confusão. Dino era o Diego, melhor amigo do Lucas, que é o atual namorado da Bia, que é minha melhor amiga. Até aí, pelo que ela falou, parece uma história maravilhosa, mas não é bem assim que funciona. Primeiramente, nós nunca estivemos ficando. Foi coisa uns 2 meses, em que encontrávamos por acaso por estar no mesmo círculo de amizade e acabávamos ficando. Mas era apenas isso. O Dino não era menino pra namorar, e eu sabia disso. Por mais que seja uma pessoa super gente boa, desde o início eu sabia que não podia me iludir, e foi o que fiz. Saía quando dava, conversava raramente, e era apenas aquilo.
Expliquei aquilo pra Bia, que não ficou nem um pouco satisfeita com a resposta.
- Mas Ju, disso aí você sempre soube, e nunca se importou, sabe que podemos sair nós quatro juntos sem que vocês tenham algo sério, e além do mais, terão outras pessoas na sua festinha, não é como se fosse um encontro romântico ou  algo assim.
-É... nesse ponto você tem razão, mas não sei, eu só não estou afim hoje...
Mas minha melhor amiga me conhecia bem demais pra acreditar naquilo, e sabia que tinha algo por trás, o que foi suficiente para 10 minutos de discussão, até ela conseguir arrancar a verdade de mim.
-Tá bom Bianca, eu vou te explicar, mas saiba que não falei sobre isso nem comigo mesma, e quero que você deixe só entre a gente, até porque não tenho certeza de nada.
-Júlia Alves de Macedo -vish, falou meu nome completo, a coisa tá ficando séria- ou você desembucha AGORA ou vou ser obrigada a te torturar no dia do seu aniversário.
É, eu realmente teria que contar pra ela, não adiantava tentar esconder as coisas da minha melhor amiga.
-Ok.. eu vou falar... é que você sabe né, eu tenho conversado com o Artur, aquele meu amigo, praticamente o dia inteiro, e desde que fomos ao cinema juntos venho percebendo umas situações meio estranhas... e agora ele postou uma foto comigo, e sério, eu não sei o que aconteceu, mas a legenda mexeu muito comigo, e não sei se pode ter alguma intenção a mais... só sei que, se tiver, eu não tô nem um pouco afim de estragar a minha amizade de anos por um cara que só quer curtir o momento e...
-Ai meu Deus, eu já entendi TUDO -fui interrompida por mais um grito- JÚLIA, já acessei o instagram dele enquanto você ficava nessa enrolação, e que ele está apaixonado por você é mais que ÓBVIO, além de me lembrar do sorriso bobo no seu rosto enquanto conversa com ele, mas ainda não tinha certeza de que MINHA AMIGA TAMBÉM ESTAVA APAIXONADA! AI QUE LINDOS!
E é por isso que eu não queria contar pra ninguém, eu não tinha certeza de nada, nem dos sentimentos dele e nem dos meus, e não queria acabar com tudo por um engano.
-Bia, eu to falando muito sério - nesse momento ela percebeu que eu não estava brincando, e a importância que aquilo tinha pra mim, e resolveu me escutar de verdade - pode ser que o Artur realmente goste de mim, e não vou mentir pra você, depois que de escutar aquela música quinhentas vezes chorando, eu não posso negar que talvez sinta algo por ele também, mas não quero me enganar, só quero deixar as coisas rolarem pra ver o que vai dar, e se isso for verdade, ele vai dar mais algum sinal. É que eu andei lembrando também, daquela época que eu namorei o Pedro...
-Não senhora Ju, nada de relembrar ex namorado bobão agora!
Mas para vocês entenderem, o Pedro havia sido uma grande bobagem da minha vida, estuda na minha escola, mas eu nunca tinha trocado mais que algumas palavras, até que esse ano ele foi da minha sala e, no carnaval, acabamos trombando e começamos a conversar. Fiquei com ele apenas no último dia do feriado, mas parecia ter valido a pena. Durante um mês saímos juntos e nos divertimos demais, até que ele me pediu em namoro. Eu sabia que não gostava de verdade dele, mas estava feliz no momento e não pensei no futuro, e o que aconteceu foi que nossa relação só piorou a partir daí, e terminamos antes de completar dois meses que estávamos juntos. Não sofri, fiquei triste apenas por ter me enganado a respeito da pessoa que ele havia me mostrado ser no começo da relação, mas levo isso como um aprendizado para não cometer o erro novamente.
-Amiga, eu não estou relembrando ele, fica calma que você vai entender. É que quando a gente ainda namorava, me lembro perfeitamente de um dia em que estávamos juntos em uma festa quando o Artur apareceu. Abri o maior sorriso pra ele e fui cumprimentar, mas notei que o Pedro não havia gostado daquilo, apesar de serem colegas e dele saber da nossa amizade. A partir daí o menino ficou louco, tentava me agarrar sempre que o Artur estava perto, e quando notei a provocação, parei aquilo na mesma hora. Não falei nada com ninguém, mas era impossível não notar o olhar de tristeza do meu amigo, e isso acabou comigo.
-Ai gente, desculpa por ter te zombado tanto! Só agora percebi a importância disso tudo pra você, e pode ficar tranquila que vou despistar o Dino, e hoje, quando eu conhecer o Artur, direi o que acho, mas pelo que entendi, essa história ainda vai render muito, sua apaixonada!
Logo nos despedimos e subi novamente para tentar dormir, já que estava tarde e eu teria que estar descansada durante o dia, mas antes disso, é claro que coloquei 21 Questions para tocar, e ativei o modo de repetição.
Entrei no celular para me despedir do Artur.
-Você sumiu, achei que tinha dormido - ele disse
-Ainda não, estava conversando com a Bia, que por sinal você vai finalmente conhecer. Você vem hoje mesmo, né?
-Claro que vou, mas devo chegar mais tarde por causa da competição que te falei - ele era viciado em jogos online - mas pode me esperar. Mas aqui, você realmente gostou da música?
-Você não imagina o quanto, Artu, você me matou com essa música...
-Então eu atingi meu objetivo... boa noite, Julha.
Esses eram os nossos apelidos que ninguém entendia. E foi quando eu quebrei uma promessa que tinha com ele de brincadeira, em que eu havia selecionado um trecho de uma música que ele me enviara logo no começo da nossa amizade e colocado no meu status do celular: "Mais fácil se esconder do que expor teu coração" , dizendo que preferia guardar meus sentimentos, o que ele brincava falando que então eu não podia enviar emoticons apaixonados, e sim aquele em que a carinha estava com um óculos, porque aquilo era a representação de como eu ficava tentando esconder o que sentia.
-Eu te amo, Artu <3
-Eu também amo você, Julha (não acredito que consegui te fazer expor) <3
E assim eu adormeci, com uma situação que até algumas horas atrás eu nunca imaginara, e louca pra saber o que estava por vir naquele 30 de julho.
 

(apenas um capítulo da minha história, que vim contar aleatoriamente para vocês)
(ficarei feliz com comentários sinceros, é sério, quero saber o que realmente acham :))