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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Capítulo 8

Eu poderia jurar que estava sonhando, que iria acordar a qualquer momento e pensar naquelas cenas rindo, já que, até alguns dias antes, acreditava ser totalmente impossível ter qualquer coisa além da maravilhosa amizade que eu tinha com o Artur.

Mas ao ser cutucada pelo menino do sorriso tímido que estava na minha frente, percebi que aquilo era real. Há poucas horas havia beijado meu melhor amigo. E a poucos minutos havíamos revelado que ambos gostariam de investir naquela relação.

- Ei, vou acabar com nosso milk shake se você continuar nesse seu mundo paralelo aí.

 E de repente notei que aquilo estava realmente acontecendo e, apesar da brincadeira, imagino que ele também estivesse tendo essas reflexões malucas, pois o copo ainda estava cheio.

Decidimos ir andando enquanto terminávamos de beber, já que era uma quinta-feira e eu ainda tinha um trabalho pra fazer naquele dia, e, mais uma vez, fomos de mãos dadas.

Da saída do shopping vi meu ônibus se aproximando, mas dessa vez não me importei em perdê-lo, vários ainda passariam por ali. E assim ficamos naquela portaria, tão próximos que já me apertava o coração a incerteza de quando ficaríamos assim novamente.

Eu queria eternizar aquele momento e, principalmente o que eu estava sentindo. Queria que aquele dia pudesse durar mais, porque tudo parecia tão simples e perfeito, e foi o dia em que eu descobri o quanto eu gostava de estar naquela situação, entre risadas, beijos e gracinhas.

Quando percebi, estava brincando com a cordinha que saía do capuz do casaco do Artur, e fiquei sem graça ao lembrar da minha mãe dizendo que eu deveria parar com essa mania de ficar mexendo em coisas que não são feitas para isso (na verdade porque dessa forma eu sempre acabava estragando alguma coisa). Mas encarar os olhos daquele menino do casaco verde água me parecia difícil agora, diante de tantas emoções e inseguranças.

E mais uma vez ele notou a minha inquietação em meio a devaneios.

- Julha, você precisa entender que comigo não tem dessa. Não precisa ficar sem graça e nem pensando que vou te achar uma esquisita - na verdade era exatamente o que eu estava sentindo, mas, como sempre, suas palavras me confortavam e me pareciam sinceras, além de sempre arrancar um sorriso do meu rosto.

- Ok, Artu. Você sabe que sou realmente bem estranha as vezes com minhas manias loucas, mas já que insiste, pode deixar que não vou parar.

Nessa hora puxei a mão dele demonstrando que já era hora de ir, e ver aquela carinha triste quase me fez mudar de ideia. Não me lembrava de ter tido uma despedida tão grande - a ponto de me fazer perder mais dois ônibus, mas cada minuto com ele naquele dia era especial, e nos separar parecia uma tarefa árdua.

Finalmente, quando consegui soltar de seu abraço e partir, ainda pude olhar para trás e vê-lo no mesmo lugar sorrindo para mim.

*

Eu ainda estava no caminho de casa quando vi a luz de notificação roxa piscando, o que significava que o Artur provavelmente já havia chegado em casa, já que morava lá perto. E antes de terminar de ler a mensagem eu já estava rindo novamente.

"Vê se não ri no bus pra não ficar com mais fama de esquisita mas 1min depois que você foi, viro a esquina e dou de cara com 3 colegas nossos, fiquei perdido quando perguntaram o que eu estava fazendo ali e respondi que tinha ido comprar comida pro meu cachorro. Tá, foi uma péssima desculpa, mas queria que eu dissesse que eu estava ali só de bobeira beijando uma Julha?"

E pelo visto aquele seria só o começo do que ainda estava por vir.

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