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sexta-feira, 31 de março de 2017

Capítulo 6

Incrivelmente, não sonhei com o futuro encontro, mas as emoções compensaram durante o dia inteiro.
Passamos o dia conversando, ou melhor, reclamando por ainda ser quarta-feira, por ter que esperar mais um dia para nos vermos.
Maldito retorno. Como eu queria eliminar aquelas aulas que teria à tarde.

O dia se arrastou, ainda mais que eu havia contado apenas para a Laura o que tinha acontecido.
Como não éramos da mesma sala, acabei tendo que guardar isso o dia inteiro, mesmo estando louca para sair gritando para o mundo o quanto eu estava ansiosa.
Descobri apenas que o Artur havia mandado a alguns dias uma mensagem para minha amiga, perguntando se ela achava que tinha alguma chance de darmos certo, mas, como ela ainda não sabia de nada, apenas ignorou.
Claro que quase pirei quando ela me disse isso, mas já era tarde demais. Típico da Laura ignorar algo que mudaria minha vida.

Escrevi letras de músicas apaixonadas nas últimas folhas do caderno durante as duas primeiras aulas depois do almoço, até que o sinal do intervalo finalmente tocou.

Mas talvez não fosse algo tão bom assim.

Eu estava sentada na cantina principal do CMil com a Laura e a Alice. Era impossível não notar minha agitação. E é claro que a Laura não perderia a oportunidade de zombar de mim.

-Tá conversando o boy, Xulia? Esse sorriso na sua cara condena.

Nesse momento comecei a rezar mentalmente pra Alice não questionar, e pensar que era mesmo apenas uma brincadeira. Mas a vida não é tão fácil assim. E, de tanto ela insistir, falei com quem estava conversando.
Logo pra ela, melhor amiga da Renata.
Enquanto isso, torcia pra que não levasse aquilo pra frente, afinal de contas ninguém sabia de nada...

-Uai, mas peraí, como assim boy? A renatinha disse que eles conversavam todos os dias nas férias, que tá na cara que ele tá afim dela.

Devo ter ficado pálida, ou talvez roxa de raiva.
Mas provavelmente foi um verde-quase-vômito, porque em poucos segundos a Laura já havia arrumado uma forma de me levar até o banheiro com alguma desculpa que não consegui entender.
Quando finalmente voltei minha mente para o mundo real, parecia mesmo que ia vomitar, de tanto que a maluca da minha amiga me sacudia.

-Não precisa falar nada. Não precisa me consolar. Eu vou superar. Eu nem tava criando tanta expectativa assim. No fundo eu sempre soube.

-JÚLIA DE MACEDO - por que as pessoas gritam quando estão com raiva? Credo - PARA DE SER DRAMÁTICA E CAI NA REAL. VOCÊ SÓ PRECISA CONVERSAR COM ELE. COM CERTEZA TEM ALGO ERRADO NISSO. VOCÊ SABE COMO AQUELA GAROTA É EXAGERADA.

Eu faria qualquer coisa pra parar aquele escândalo que estava acontecendo, então apenas peguei o celular e digitei um "preciso falar com você" para o Artur, prometi para a Laura que conversaria com ele antes de tomar qualquer atitude maior e voltei para a aula.

Quando finalmente estava indo embora é que fui ver sua resposta, em desespero querendo saber do que se tratava, mas decidi fingir que estava tudo bem e só conversar sobre aquilo pessoalmente no dia seguinte, dizendo não ser nada grave.

Parte de mim queria acreditar nisso. Meu coração dizia para ignorar aquela maldita frase dita pela Alice, para acreditar que não se passava realmente de um exagero e provocação. Afinal de contas, como alguém - alguém que é seu melhor amigo - poderia te enganar e iludir dessa forma? Era muito surreal. Mas, se a suspeita fosse confirmada, tudo iria por água abaixo, e mais uma vez a minha confiança seria traída.

Mais difícil foi convencer o Artur de que ele não precisava se preocupar. Algo em mim dizia que ele não agiria daquela maneira se fosse culpado, mas eu não podia confiar em um coração apaixonado.

O assunto com ele fluía normalmente, e minha raiva já tinha passado.
Deixaria para me estressar de verdade se a suspeita fosse confirmada, e mais uma vez adormeci na nossa conversa.

*

Nem acreditei quando, ao acordar ainda muito sonolenta, olhei para o celular e vi que finalmente era quinta-feira, o dia que definiria - ou não - o começo - ou o final - da nossa história.

Evitei olhar o celular durante a manhã para não ficar ainda mais ansiosa, mas assim que aquela aula de biologia acabou e li um "olha pela janela, já estou aqui fora te esperando" o meu coração quase saiu pela boca.

Ver ele ali escorado no muro do outro lado da rua me fez criar mil situações futuras, mas eu precisava manter o pé no chão.

Desci correndo as escadas, sem pensar no que faria quando o encontrasse de fato, o que falaria a respeito do que a Alice me dissera e em como terminaria aquele encontro.

Nos cumprimentamos meio sem graça, os dois loucos para que a bomba fosse solta, e foi o que fiz enquanto caminhávamos em direção ao DiamondMall.

-Tá bom. Vou te fazer uma pergunta séria e preciso que você seja sincero.

E ele manteve a seriedade, até eu falar.

-O que você realmente tem com a Renata? Fiquei sabendo que parece que isso tudo que você tem comigo não é único... que ela inclusive acha que você estava super afim dela... realmente fiquei bem confusa.

Antes que eu fechasse a boca ele já estava tendo uma crise de riso, típico do Artur. Mas felizmente ele percebeu que eu não estava achando graça alguma naquilo e começou a se defender.

-Júlia, você só pode estar de brincadeira comigo. Me diga que você não está acreditando nisso mesmo, não faz sentido algum. O que você tá pensando? Que eu me declaro assim para qualquer amiga? É lógico que tudo isso é uma tremenda mentira.

Eu não poderia ceder facilmente.

-Ok, eu também achei a história bem maluca, mas a pessoa que me contou parecia dizer sério. Você fez alguma coisa pra Renata chegar a essa conclusão?

-Eu vou ser sincero, você sabe que eu conversava sim com a Renatinha, mas não chega a um décimo do que nós dois temos. E você deve lembrar - infelizmente eu lembrava - que eu já tentei ficar com ela sim, mas tem uns dois anos e foi mais na brincadeira na época de festas de 15 anos, nunca passou disso.

Ele percebeu que eu ainda não estava convencida, e continuou.

-Júlia, eu não arriscaria nossa amizade assim, acha o que? Que eu to marcando um encontro com ela aqui depois que você for embora pra dizer as mesmas coisas? Além disso, tá na cara que eu gosto é de você, ela mesmo sabe disso. E tem outra, depois do que você me contou, eu tenho me afastado muito dela, não gosto dessas atitudes. Gostaria de conciliar as duas amizades, mas se ela não te trata bem, eu também quero distância.

Nesse momento já estávamos chegando no shopping, e eu não tinha mais o que dizer, eu sabia quando ele estava mentindo, e poderia afirmar que não era o que estava acontecendo no momento.

Estávamos ao lado da escada rolante quando ele me puxou para um abraço. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas de repente o abraço se intercalava com longos olhares e sorrisos, e novamente nos abraçávamos. Eu podia sentir sua respiração e seu batimento cardíaco, e imagino que ele também sentia os meus.

Os olhares começaram a ficar mais longos, até que finalmente começamos a nos aproximar ainda mais, até que nossas bocas estivessem coladas e não existisse mais espaço entre nossos rostos, até que, depois de dois anos e meio, eu beijasse o garoto que me conhecia tão bem e que seria capaz de mudar a minha vida dali pra frente.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Minha vida fora de série - resenha

Essa semana recebi um email de uma leitora fofa pedindo pra falar um pouco sobre "Minha vida fora de série", e claro que respondi imediatamente que faria com o maior prazer, já que é um dos meus livros preferidos.
 
Acredito que não tenha feito isso ainda justamente por se tratar da história que mais me identifico. Para mim, sempre vai ser aquela série que eu releio todos os anos, que faço contagem regressiva para o lançamento, e, que quando finalmente sai, nem que eu tenha que virar noites, leio em no máximo 3 dias.

Mas vamos lá.

Para quem não conhece, o primeiro livro, publicado pela primeira vez em 2011, conta a história de Priscila, uma garota que se vê obrigada a mudar de São Paulo para BH quando seus pais decidem de separar.

Daí vocês já podem imaginar, a dificuldade de deixar para trás seus amigos, sua casa, alguns de seus animais de estimação e todo o conforto que seu antigo lar.

Mudar de cidade sempre é difícil, mas fazer isso na adolescência é algo que deveria ser proibido. Como começar de novo em um lugar onde todos já se conhecem, onde os grupos já estão formados, onde ninguém sabe quem você é? A princípio, Priscila não gosta da ideia, mas aos poucos percebe que pode usar isso a seu favor, tendo a chance de ser alguém diferente. Mas será que o papel escolhido é aquele que ela realmente quer representar?

Isso é apenas o começo de uma temporada, que trás uma surpresa atrás da outra.

Espero ter despertado o desejo dessa leitura fofíssima naqueles que ainda não tiveram o prazer.

Impossível fazer qualquer crítica a um dos meus livros favoritos da escritora que tanto admiro.

Para mim, é totalmente perfeito.

Agora, em 2017, foi anunciado que uma quarta temporada está vindo por aí... e mal posso esperar!   

 



terça-feira, 14 de março de 2017

A importância do ato de ler para o desenvolvimento social - Redação

Acabei esquecendo de publicar antes, mas fiquei super feliz quando a primeira proposta de redação do colégio deste ano foi "A importância do ato de ler para o desenvolvimento social". Me chateou ouvir tantas pessoas reclamando da escolha do tema, o que comprova o quando a população brasileira é atrasada nessa questão. Mas, felizmente, ainda existem os que valorizam essa arte, e vou deixar pra vocês o meu texto que foi avaliado em 920 pontos, espero que gostem :)

O hábito de ler: isso muda o mundo

Sabe-se que o Brasil é um país gravemente afetado pela crise da educação, que atinge principalmente as camadas de baixa renda. Contudo, um agravante da situação consiste na precariedade da leitura realizada pela população. Trata-se de uma habilidade que deve ser mais respeitada, já que apresenta enorme influência no desenvolvimento do indivíduo.

Somando-se a isso, a prática que, além de ampliar o vocabulário, instruir e incentivar a reflexão acerca de temas importantes para a formação do cidadão, também atua na prevenção de problemas mentais. Todavia, desde a juventude, principalmente nas escolas, a leitura é vista, muitas vezes, como algo obrigatório, uma imposição que é feita sem o direito de escolha, reduzindo o número de jovens leitores.

Outrossim, ocorrem também problemas governamentais como a falta de acessibilidade, levando em conta que inúmeras cidades não possuem bibliotecas para atenderem à população. Consequentemente, aumenta o número de profissionais incapacitados de resolver desafios por não conseguirem interpretar textos simples. Por meio da leitura, o indivíduo desenvolve a criatividade, a imaginação, adquire cultura, conhecimentos e valores.

Dessa forma, é necessário que o governo invista em formas de acesso e incentivo, desenvolvendo campanhas como a "Leia para uma criança, isso muda o mundo" realizada pelo Banco Itaú, em que, ao se cadastrar, o indivíduo tem o direito de realizar, gratuitamente, o pedido de um conjunto de livros infantis. Cabe à mídia divulgar tais projetos, oferecendo instruções e demonstrando os benefícios da leitura. Por fim, é papel dos pais e das escolas oferecer obras aos alunos desde a infância, dando a elas a liberdade de escolher aquelas que mais se identificam para que, assim, comecem a enxergar a leitura como um hábito prazeroso e que gera ótimos resultados.

sábado, 11 de março de 2017

Tá todo mundo mal - Jout Jout

Confesso que eu não conhecia Jout Jout.

Quase apanhei quando disse isso pra uma amiga, que achou um absurdo eu nunca ter visto seus vídeos no YouTube.

Mas enfim, ganhei o Livro Tá todo mundo mal da minha sogra e me apaixonei no mesmo instante.

Primeiramente pela capa, que, apesar de me fazer virar o livro de cabeça para baixo por engano várias vezes, é linda e criativa.

Mas não é só isso. Assim que comecei a leitura percebi que mesmo sendo um livro sobre as crises enfrentadas ao longo da vida de uma jovem de 28 anos, são tratadas de forma bem humorada e de uma maneira mais leve.

São abordadas crises passadas desde a infância. De dificuldades em manter vivo seu Tamagoshi - bichinho eletrônico que foi febre durante sua infância - até detalhes de sua vida pessoal, como  relacionamentos fracassados, desilusões amorosas e barreiras enfrentadas durante a difícil decisão da carreira a ser seguida. Me identifiquei bastante nessa parte.

É um livro pequeno e fácil de ler.
Não sei se agrada todo o público, mas provavelmente todos se identificarão com pelo menos uma crise.

Apesar de não acompanhar canais no YouTube, me senti tentada a conhecer o seu, e era como eu imaginava. Pra quem não é muito fã desses vídeos, até que gostei bastante! (:

sábado, 4 de março de 2017

Capítulo 5

Eu estava indo encontrar com minha irmã em sua faculdade, onde a Clara cursava seu segundo período de Musicoterapia e, de lá, iríamos juntas a uma consulta ao dermatologista, coisa de rotina mesmo.

Durante todo o percurso tentei não pensar na cena vivenciada a poucos minutos, eu estava confusa demais para isso.

Já estávamos na sala de espera quando senti meu celular vibrar. Notificação roxa. Artur.

"Juro que eu tentei, mas é muito difícil"

Oi? O que era aquilo? Tentou o que? Esse garoto é estranho. Além do mais, detesto esse mistério.
Sem nem pensar em possibilidades do significado daquela frase, respondi rapidamente.

"Tentou o que?"

(Talvez eu devesse ter pensado melhor antes de deixar minha curiosidade passar por cima de tudo).

"Tentei falar que gosto de você, mas simplesmente não dá. Sempre acabo travando, e dessa vez pesou"

Oh, céus. Ele iria se declarar por mim através de mensagens??? E eu??? O que iria responder??? Tudo que eu mais tinha sonhado durante os últimos dias estava bem na minha frente e eu não sabia como lidar.

"Eu simplesmente não sei o que falar, é muita coisa pra minha cabeça"
"Nem eu, julha, mas só sabia que tinha que falar algo, não dava mais pra segurar"
"É muita coisa pro meu coração em tão pouco tempo"
"O que a gente faz então?"

Eu não tinha a mínima ideia, meu coração nunca havia estado mais acelerado. E minhas mãos não paravam de tremer, até a Clara, que estava sentada em uma poltrona ao lado da minha, reparou a agitação.

- Que isso, Júlia, você tá bem?

E eu apenas balancei a cabeça, não queria ter de explicar tudo pra ela naquele momento.

"Você tem alguma sugestão?"
"Olha Júlia, você já sabe o que eu sinto, mas e você?"
"Eu tenho medo. Muito medo. Medo de te perder, medo de estragar nossa amizade, medo de perder isso que temos, porque uma relação assim não é fácil de conseguir, e você sabe o quanto bem faz bem"
"Sem essa, julha. Vamos ser diretos. Vc gosta de mim do jeito que eu gosto de vc?"

Socorro. Como ser direta? Como expor meus sentimentos dessa forma com meu melhor amigo?

"É muito difícil, eu não sei"
"Sim ou não?"
"Acredite, eu tenho pensado muito sobre isso, mas é muito mais complicado do que parece"
"Onde está a dificuldade? Não to entendendo"

Ele realmente queria me fazer expor, depois de tantas promessas de esconder os sentimentos para não feri-los.
Parecia que tinha um objeto entalado na minha garganta, eu teria mesmo que falar.

"Ok, Artur. E se a resposta for sim? O que acontece? O que muda? Como a gente fica?"
Respira, Júlia.
"Você sabe muito bem"

Mas eu não sabia, e foi isso que disse a ele.
Falei também que iria demorar a respondê-lo, porque estavam chamando meu nome para ser atendida, enquanto, na verdade, eu havia chegado mais cedo para a consulta e ainda tinham umas três pessoas na minha frente.
Desliguei a internet por um tempo, eu precisava pensar muito bem antes de tomar qualquer decisão.

- O que você tem, Júlia? Você definitivamente não está normal.
- Clara, me deixa, só não estou afim de conversar.
Mas ela tentou me fazer cócegas, contou piadas e me irritou até que eu não aguentar mais, e fui obrigada a contar pra minha irmã algo que eu tentava esconder até de mim mesma.

- Huuum, e você? O que sente por ele?
- Eu não sei...
- Tá. Já percebi que também gosta. Dá uma chance, Ju. Se os dois se gostam, não custa tentar.

Mas eu não confiava nessa. Já tinha me dado mal vezes o suficiente para saber que não era tão fácil assim. E, se dependesse de mim, dessa vez não teria um final trágico. Se eu decidisse tentar, faria de tudo para dar certo, e por isso era uma decisão difícil.

Eu queria ouvir mais uma opinião, e decidi ligar pra Bia e contar pra ela também. Ela saberia me aconselhar bem.

- Olha Ju, eu acho que você está certíssima de ser cautelosa nesse momento e pensar mil vezes antes de dar uma resposta. Mas não deixe que seu medo estrague uma possível relação. Pode ser que você esteja confusa, ou que não goste o mesmo tanto que ele, mas o que custa tentar? Nesse caso, é melhor se arrepender de ter feito do que ficar pra sempre imaginando o que poderia ter acontecido. Faz igual eu com o Lu, conversa com ele, explica direitinho o que tá sentindo, e tenho certeza que dará tudo certo.

- Obrigada, Bia. Você é demais.

- Imagina, flor. Agora vai conversar com seu amor e me conta tudo depois! Beijos!

Minha consulta ainda demorou alguns minutos, mas eu não me importava. Quanto mais tempo antes de ter que encarar a realidade que me aguardava, melhor. E só liguei a minha internet novamente quando já estava em casa, no conforto da minha cama e com um copo de água para emergências ao lado.

"Você sabe muito bem que não sou de me abrir pra qualquer um, não sou igual os caras que você namorou. Se eu gosto de você e te falo, é porque é de verdade. Não sou menino pra ficar brincando com isso, e eu não tava aguentando mais ficar pensando e criando situações na minha cabeça pra ver se eu tinha coragem de te falar algo. Eu não vou te pressionar, quando quiser falar, me chama."

1. Como assim os caras que eu namorei???? Como se tivessem sido vários. Como se algum tivesse valido.

2. Ok, eu sabia que ele não se abria com facilidade, e já sentia aquele clima a algum tempo, mas

3. Como assim não é menino pra ficar brincando com isso? Como eu ia saber? Eu não fazia ideia de como o Artur lidava com garotas nesse aspeto. Até hoje, só tinha visto ele ficando com meninas que ele nem conhecia em festas, e digamos que não conversávamos muito sobre isso.

Mas a verdade é que eu sei que as coisas mudam quando estamos apaixonados. Mas também sei como a maioria dos caras se aproveitam dessa situação.
Eu estava totalmente dividida. Não acho que ele faria algo pra me magoar, jamais. Mas eu estava tão confusa, e, por mais que não quisesse admitir, eu também não havia parado de criar essas situações na minha cabeça de um tempo pra cá.
Depois de muito pensar, resolvi chamá-lo.

"Tá aí?"

"Tô. Fala sem apagar, por favor."

Eu tinha essa mania, e ele sabia disso. Começava a escrever algo e logo apagava tudo, com medo de me arrepender no futuro, mas dessa vez eu me esforçaria pra não fazê-lo.

"Você pediu pra eu ser direta, mas sabe que isso é difícil pra mim. O que eu sei é que tenho muito medo de perder isso que a gente tem, mas também gosto muito de você. Não sei se exatamente da mesma forma, mas também não quero me arrepender de não tentar." 

Pronto. Falei. Eu poderia me arrepender pelo resto da vida se não corresse esse (grande) risco. Mas que se dane. Eu gostava dele, e se era recíproco, não tinha porque não tentar.

"Então podemos marcar de sair? Que dia você pode? (É muito ruim ter essa conversa por mensagens, mas não teve jeito)"

"Sim, é péssimo, mas vou olhar aqui na minha agenda se tenho um tempinho pra você."

E nessa hora o clima já voltou ao normal, descontraído e leve como sempre, nem parecia que melhores amigos haviam praticamente acabado de se declarar. 
Marcamos de nos encontrar dois dias depois, em uma quinta-feira.
Iríamos assistir Como eu era antes de você, justamente a comédia romântica que eu duvidara que ele veria comigo.
E, apesar de estar totalmente em pânico por dentro, eu tentaria manter a calma e deixar o nervoso para o dia do encontro, já que teria que aguardar um dia e meio inteiros para encontrá-lo e confirmar se tudo não passava de uma pegadinha que serviria para me debocharem pelo resto da vida.

*

Infelizmente, as coisas não são tão simples assim. Logicamente eu não consegui afastar esse pensamento nem por um segundo, e o lado investigador do Artur não estava ajudando.

Tínhamos conseguido desviar o assunto durante algumas horas, acredito que nenhum dos dois queriam demonstrar o quão ansiosos estavam, mas ele foi o primeiro a ceder através de uma mensagem.

"Me desculpa por voltar nesse assunto, mas quando você disse que também tinha pensado sobre mim, o que exatamente estava pensando?"

Uma mensagem que eu não queria responder.
Demonstrar meus sentimentos por pessoas que não fossem da família ou que tivessem cem porcento da minha confiança havia se tornado cada dia mais difícil depois de algumas decepções.

Nessa hora, fui salva pela minha mãe, que, não importava o horário e mesmo trabalhando muito, era sempre muito animada.

-Ju, vamos à academia?

Era uma ótima ideia. Apesar das férias, eu não havia ido com frequência ao meu clube. Ele ficava pertinho da minha casa e oferecia diversas atividades. 

Antes de sairmos, porém, a mulher que me conhecia como conheço a palma da minha mão, notou que eu estava diferente, e caiu na bobagem de dizer isso perto da Clara.

Agora eram duas pessoas dentro de casa me atormentando, dizendo que eu estava apaixonada, e que eu devia logo dar uma chance ao Artur, "porque ele era um fofo e eu estava caidinha por ele". Argh.

Depois de extravasar e tomar um banho renovador, resolvi ligar para o Artur e resolver aquilo de uma vez por todos.

-Tá, eu te odeio por me fazer falar essas coisas, e eu não sei o que você quis dizer quando falou sobre criar situações na sua cabeça, mas a verdade é que eu também tenho feito muito isso - o silêncio do outro lado da linha era perturbador. - Vou te dar um exemplo péssimo, mas é o que consigo pensar. Quando você me manda aquelas brincadeirinhas no twitter, eu nunca sei se levo a sério ou se é apenas ironia, e isso não sai da minha cabeça. E quando você postou a foto no meu aniversário, eu realmente morri. Mas já me expus o suficiente, fala alguma coisa.

-Péssimo, Julha? Você deu o exemplo perfeito. E como assim você morreu? Você precisa ser mais clara.

Mas ninguém entendia o meu medo. O quanto eu travava na hora de explicar meus sentimentos. Apesar de ser uma amante secreta das palavras, elas me fugiam nos piores momentos, e foi o que tentei explicar.

-Júlia, eu te entendo, lembro do seu status e sei o quanto é difícil falar sobre isso. Mas você também tem que se colocar no meu lugar, eu não tinha ideia de qual seria sua resposta, e pelo visto você nem conta nada pras suas amig...

-ESPERA AÍ, VOCÊ PERGUNTOU PRA ELAS???

Nem eu havia falado nada com ninguém além da bia!!!

-Lógico que falei com elas. Se fosse pra ficar estranho entre a gente eu não ia querer nada. Aí perguntei pra Laura e pra Alex. Fico feliz que elas não tenham te falado nada.

A Laura vocês já sabem quem é. E a Alex era uma amiga que tinha sido da nossa sala no nono ano, mas que eu havia me afastado um pouco. E o pior é que, por ela ser amiga do Artur, eu a havia chamado pra desabafar sobre o que estava sentindo ontem, mas acabei desistindo. Ainda bem. Ela teria contado tudo pra ele e agora eu estaria morrendo de vergonha.

-Eu odeio essas traidoras, tinham que ter me contado!

Depois disso, acredito que ambos chegaram juntos a conclusão: estava claro pra gente que não adiantava mais tentar fingir que não se importavam. Tarde demais para esconder nossos sentimentos.

Encerramos a chamada e voltamos para o chat. Deixamos de lado também a picuinha e a tentativa se não demonstrar a ansiedade que estávamos sentindo para o dia 4.

Conversamos sobre todas as vezes que tentamos fingir não perceber a paixão do outro, sobre aquela festa de 15 anos que tínhamos ido há mais de 2 anos. A festa em que ele exagerou um pouco na bebida e, ao final, sentamos juntos em um cantinho, ele me fazendo um carinho maravilhoso que eu fingi ser só de amigo, mesmo que estivéssemos quase nos beijando de tão próximos.

Dois anos haviam se passado, e nada tinha mudado. Ele me disse que durante todo esse tempo pensava em mim muito mais do que como amiga, e eu aqui na inocência.

Pensei na possibilidade de estar sonhando e acordar a qualquer momento, mas um fato em especial me fez cair na real.

O único dia em que eu realmente havia pensado que ele pudesse gostar de mim. O dia que eu havia mencionado para a bia. Ele se lembrava dessa data.

Como eu havia dito para minha amiga, nesse dia eu ainda namorava com o Pedro, e estávamos em uma festa quando o Artur apareceu. Resumidamente, meu ex tentou provocá-lo de todas as maneiras, me agarrando toda vez que ele passava, o que achei muito estranho e parei aquilo imediatamente. Eu vi a reação do Artur, seu olhar triste ao observar aquela cena, e fiquei arrasada. Mas, na época, não tinha como eu ter certeza do que aquilo significava, e imaginei que pudesse ser apenas ciúmes de amigo.

Agora, cinco meses depois ele confirmava essa história, dizendo ter sido uma das piores cenas que presenciara, tendo ficado arrasado pelo resto da noite, em que acabou fazendo bobagens como forma de vingança. Mas fez isso em casa. Sozinho. Sem que eu soubesse de nada para não me magoar.

Eu estava totalmente chocada. Aquilo parecia cena de filme. Mas as coisas não ficavam em clima ruim com o Artur, e apesar de ele estar bravo com a lembrança, logo eu já estava rindo de novo ao ser comparada com uma chuteira. Segundo ele, esse momento estava parecendo véspera de Natal de quando era criança, em que certa vez pediu uma dessas de presente e parecia que o dia de recebê-la nunca chegaria. Quando finalmente conseguiu, não parava de olhar para o pé nem um minuto.

Nunca fiquei tão feliz em ser comparada com um objeto.

O tempo foi passando e quando percebi já era onze da noite. Eu tinha conversado com ele simplesmente o dia inteiro e, apesar de normalmente dormir cedo, nesse dia eu não queria interromper a conversa, não queria dormir e acordar ainda faltando um dia para vê-lo, não queria correr o risco de estar sonhando.

Tiveram assuntos tensos, em que ele fazia perguntas sentimentais demais pra serem respondidas por WhatsApp, momentos de lembranças, de tristeza e de gargalhada, recordando cenas dos nossos dois anos e meio como amigos.

Acima de tudo estava a ansiedade. Eu só queria encontrá-lo logo, poder tocá-lo, conversar direito e saber se aquilo era mesmo real.

Mas uma hora acabei cedendo ao sono, já que acordaria cedo na manhã seguinte.

Teria que esperar mais um dia, mas, se tudo desse certo, valeria a pena.

Fiquei sumida mas espero que tenham gostado de mais um capítulo da série Julha e Artu <3

quarta-feira, 1 de março de 2017

O amor deveria assustar?

No início tudo são flores, romance e carinho
Mas o tempo passa, a intimidade aumenta
E junto dela vem as confusões.
Eu não consigo entender
Por que agora estamos assim
A cada dia bom
No mínimo três ruins.
Ele diz que você é muito exigente
Que te trata bem até demais
Mas peraí
O amor não é pra isso?
Quando amamos queremos sempre agradar
Não devemos fazer nada pra magoar
E nem soltar palavras sem pensar.
E agora deitada escuto a música baixa que sai do som da minha irmã enquanto ela dorme
Dizendo para não desistir do amor
Para não ter medo do amor.
Mas o amor nos dá vontade de desistir?
Ele deveria nos assustar?